Comia a unha. Abria a porta da geladeira. Lia um livro. Tocava uma música. Olhava o céu. Respirava fundo. Perdia o fôlego. Mexia no cabelo. Olhava pro lado. E então o celular tocou, até que enfim. Era ele na outra linha, os olhos se encheram de lágrimas e ela atendeu. A voz falhou, o coração palpitou e a voz saiu como um sussurro: Oi. O telefone ficou mudou e os dois apenas ouviam um a respiração do outro. E então ele perguntou se estava tudo bem, como havia sido o primeiro dia de aula, como eram os veteranos, os professores... Se ela ainda tava com aquela dor no peito. Ela respondeu que tava tudo bem, tirando a dor no peito.Ele então perguntou preocupado se ela havia comparecido ao médico, ou se apenas tinha deixado como promessa, mais uma vez.
Ela insistiu dizendo que não precisava de médico, que o seu remédio era
outro. Ele perguntou o que era, e mais uma vez a voz dela se perdeu. Ela
começou a chorar e a dizer se ele sabia por quantos dias ela estava esperando
aquela ligação, que ela já tinha roído todas as unhas. Que não aguentava mais
fingir que tava bem, que precisava dele ao lado dela. Só pra ela dizer como
tinha sido o dia, como as coisas estavam indo bem. Ou pra dizer que passou o
dia inteiro sentindo o perfume dele. E sussurrou aos prantos, fica. Não vai
embora.
A linha ficou muda, as lágrimas se multiplicaram. Então era assim? Ele ligava, desconcertava-a.
E ficava tudo bem, um dia ou outro ele iria ligar. Não, não é assim que se resolvem
as coisas. Ela retornou a ligação, e pediu pra ele esqueça-la e que a
procurasse apenas quando desse valor a algo que nem ela mesma sabia se ainda possuíam,
o respeito.
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