Primeiro erro

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Eu era criança quando ouvi minha mãe dizer pela primeira vez para não confiar tanto nas pessoas, que muitas possuem um coração "não tão bom" e podem nos machucar algumas vezes, automaticamente a questionei de que forma era possível descobrir isso, ela passou a mão delicadamente no meu cabelo, segurou um dos meus quase-cachos, suspirou fundo e como se fosse a melhor noticia do mundo disse:
- Só há um jeito querida, e é se machucando. - ela beijou a minha testa, mas eu ainda não tinha terminado.
- Mas mãe, é só passar remédio que passa, não é?
Minha mãe sempre pensava muito antes de me responder sobre esses assuntos de "adulto", e embora eu tentasse entender melhor, ela sempre dizia que eu só entenderia quando fosse mais velha.
- Não é esse tipo de machucado, filha. As vezes algumas pessoas nos machucam com palavras, gestos, ou até mesmo com o silêncio.
- Mas que tipo de machucado é esse, então?
Sempre que me lembro dessas conversas com a minha mãe, sinto uma saudade imensa de não saber o que é sentir aquilo que ela tentava me explicar.
- É um machucado que ninguém vê, não se preocupe, vai doer dentro de você, mas não vai sair sangue, e toda a dor com o tempo vai passar. Você vai entender quando ficar mais velha!
Levantei os ombros, bufei, e como toda criança que não entende nada da vida, quis ser grande:
- Mãe, você SEMPRE diz isso, mas será que vou conseguir continuar bem, igual você?
- Mas não é sempre que eu estou bem, as vezes eu também sou machucada, mas com cada dor a gente aprende alguma coisa. Lembra o dia que você ficou brincando no jardim, mesmo comigo dizendo que não era para brincar porque haviam formigas?
- Lembro, mamãe.
- Mesmo assim você brincou, e foi mordida, ficamos 2 dias no hospital, e acho que a mocinha ai aprendeu alguma coisa com isso.

Não gostava quando ela discretamente conseguia me dar uma bronca, mesmo depois de tanto tempo. Na verdade era ai que nossas conversas paravam, porque com certeza ela ia achar alguma outra história para me explicar essas coisas da vida, e eu só gostava de histórias boas, mas depois desse dia, em que fiquei sabendo que as vezes as pessoas iriam me machucar, comecei a observar mais as bruxas que estavam sempre lá nas histórias, comecei a entender porque os adultos viviam querendo ser criança de novo.

Mas, o que a minha mãe não havia me contado é que muitas vezes essas pessoas que nos machucam, são pessoas que nós amamos. E foi exatamente isso que eu aprendi com o meu primeiro erro "de gente grande".

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